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Mestre em Ciências (M.Sc.) - Conclusão e reflexões

Diogo Matheus Diogo Matheus Seguir 19/04/2019 · 4 minutos de leitura
Mestre em Ciências (M.Sc.) - Conclusão e reflexões
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No dia 21/03/2019, depois de alguns anos, apresentei minha defesa de dissertação de mestrado no PESC/COPPE/UFRJ, finalizando uma jornada que iniciou em março de 2016. Nesse texto irei compartilhar minha experiência no mundo acadêmico.

Mundo acadêmico

Os meus primeiros meses foram de adaptação, pois minha graduação teve ênfase no mercado de trabalho e minha percepção de método científico era muito superficial por conta da pós-graduação (MBA). Dessa forma, artigos científicos ainda não faziam parte da minha rotina. Nesse cenário, acredito que seria interessante existir um curso online de curta duração que tenha como objetivo introduzir pessoas no mundo acadêmico, e.g., tipos de publicações, tipos de veículos de publicação, mecanismos de busca de artigo científico, etc.

Minha percepção foi de que esse tipo de conhecimento era essencial demais para os envolvidos se preocuparem, algo que os alunos já deveriam entrar dominando. Ciente disso, precisei pesquisar por livros e materiais na internet por conta própria para compreender um pouco mais o mundo acadêmico.

Disciplinas ofertadas

O mestrado no PESC/COPPE/UFRJ é estruturado em trimestres, ou seja, quatro trimestres, onde os três primeiros possuem disciplinas ofertadas e o quarto não possui disciplinas mas conta com avaliação do orientador, não se trata de férias, como os professores / orientadores sempre gostam de lembrar. No total o aluno de mestrado precisa concluir 8 disciplinas de pós-graduação, geralmente algumas dessas disciplinas serão ministradas pelo próprio orientador e o restante você poderá escolher, mantendo seu orientador informado.

Nessa fase de disciplinas, gostei bastante do conteúdo ofertado pelo professor Guilherme Horta Travassos, um pesquisador que acredito que todo apaixonado por desenvolvimento de software iria gostar de conhecer.

Pesquisa acadêmica

Quando participei do processo de seleção do mestrado, indiquei que gostaria de estudar sobre reutilização de software, principalmente, por conta da minha experiência profissional como consultor, onde você acaba observando oportunidades de reutilização de software em diferentes níveis de granularidades, e muitas dessas oportunidades não são aproveitadas na prática.

Nesse cenário, embora tenha estudado sobre diferentes tópicos na fase de disciplinas, meu tempo de pesquisa para dissertação foi concentrado nos tópicos de pesquisa de Linha de Produtos de Software e Linha de Processos de Software.

Atividades extracurriculares

No PESC/COPPE/UFRJ é bastante comum encontrar estudantes e pesquisadores que participam de laboratórios de professores, bem como de projetos por meio da fundação COPPETEC. Os projetos da fundação COPPETEC são financeiramente relevante para os estudantes e pesquisadores, pois representa uma oportunidade de complementar renda sem sair do ambiente acadêmico.

Por conta da experiência no mercado e perfil “hands-on”, minhas atividades extracurriculares foram dedicadas aos projetos da fundação COPPETEC, desenvolvendo software para apoio de políticas públicas e cidades inteligentes.

Reflexão

  • Tempo - O tempo é infinito no universo, mas é finito nos nossos dias. Esse desafio existe para todos. Porém, o escopo de uma pesquisa é variável, e isso pode representar um problema para você. Dessa forma, identifique o principal ponto de contribuição da sua pesquisa e faça um mapeamento dos pontos opcionais / complementares. Controle o escopo da sua pesquisa e compartilhe cronogramas com o seu orientador. Gestão de tempo será essencial, principalmente se você executar atividades paralelas (e.g., trabalho). No final das contas, o mestrado tem duração finita, use bem esse tempo e tenha pelo menos uma contribuição para defender antes do prazo final.
  • Relação pesquisa e trabalho - O principal desafio na relação entre pesquisa e trabalho é a disponibilidade para os compromissos do mestrado (e.g., aulas, reunião de grupo, reunião de orientação, conferências). Os projetos da fundação COPPETEC, iniciativa da própria COPPE/UFRJ, são flexíveis nesse ponto. Porém, profissionais de mercado costumam ter dificuldade nessa parte.
  • Número de publicações - Embora não exista exigência formal de número de publicações para obter o título de mestre, existe uma cobrança perceptível por parte dos orientadores. Na prática, os requisitos formais são o mínimo que você deve obter, mas as cobranças são baseadas na percepção de cada orientador. Nesse cenário, as publicações representam um retorno do aluno aos orientadores e universidade, além de contribuir para o desenvolvimento do próprio pesquisador.
  • Ecossistema de publicações - Seguindo no assunto de publicações, minha percepção sobre o ecossistema de publicações foi negativa considerando diferentes fatores, e.g., conferências cobrando valor para pesquisadores apresentarem seus trabalhos, direitos autorais envolvidos, plataformas de distribuição de artigos cobrando valor para acessar o conteúdo escrito por pesquisadores, etc. Na minha opinião o ecossistema de publicações não faz o menor sentido, no mínimo o conteúdo produzido por pesquisadores deveria estar isento de cobranças e a disponibilização desse conteúdo deveria ser gratuita.
  • Finanças - Acredito que o retorno financeiro imediato não é o objetivo de quem faz uma pós-graduação stricto sensu, principalmente durante o curso. Porém, ninguém quer passar por dificuldades. Os valores das bolsas de estudo de mestrado e doutorado hoje são baixos, dificilmente alguém graduado ganharia esses valores, principalmente em computação. Além disso, não é garantido conseguir uma bolsa de estudos. Se você está inserido no mercado de trabalho, ganhando salário relevante, sugiro não cogitar abrir mão do emprego, considere participar do processo de seleção visando fazer sua pós-graduação em tempo parcial, sem receber bolsa de estudo, seguindo no mercado de trabalho.

Acredito que estudar sobre metodologia científica, bem como colocar uma pesquisa em prática e compreender os desafios envolvidos, muda nossa forma de pensar sobre problemas, além de aumentar nossa confiança para questionar e responder questões cientificamente.